Lisboa: votar em 2021

MVA
3 min readSep 8, 2021
Mural de D*Face em Lisboa, foto de Mariana Valle Lima (“Time Out”)

Todas as sondagens indiciam que Lisboa continuará alinhada à esquerda e que Medina continuará como Presidente da Câmara. Continua assim uma tradição já longa, tendo mesmo sido na capital que se ensaiaram várias formas de “geringonça” antes de esta existir ao nível nacional.

A decisão eleitoral é, para mim e em Lisboa, uma decisão de escolhas às esquerdas. Não é fácil, sobretudo quando não se pertence nem se está alinhado com nenhum dos partidos; mas também quando já se esteve, em fases da vida, circunstâncias ou projetos diferentes. Constroem-se relações, feitas de entendimentos e desentendimentos, de ideias e ações com que se concorda e com que não se concorda — da habitação aos transportes, dos carros às ciclovias, das alterações climáticas ao turismo, das narrativas nacionais à promoção ativa dos direitos humanos.

Mas as eleições autárquicas têm uma vantagem: não são uma, mas sim três eleições. Na Junta de Freguesia podemos votar na proximidade quase imediata, feita da gestão do quotidiano do bairro e da “alma” que para ele se deseja. Na Assembleia Municipal — onde até já fui deputado em tempos — escrutina-se a atividade da Câmara. E nesta última (tantas vezes vista como principal ou única nas escolhas eleitorais autárquicas, efeito duma perversão mediática do sistema…) está a liderança executiva, mas que, e ao contrário do que muitos pensam, não é o equivalente municipal do Governo nacional, pois pode incluir vereadores de partidos que não o do ou da Presidente da Câmara.

Como penso votar, então, em 2021? Começo por “baixo”, pela Junta de Freguesia, e sem que este “baixo” seja demérito — bem pelo contrário, aliás. Em Alvalade votarei no PS e em José António Borges, atual presidente da Junta. Tenho apreciado o seu trabalho numa freguesia historicamente associada à direita e onde a equipa do PS tem feito um excelente trabalho de solidariedade e coesão sociais, bem como de promoção cultural da freguesia como ícone da modernidade lisboeta e refúgio da turistificação.

Para a Assembleia Municipal, o parlamento da cidade — e na qual o presidente da minha Junta terá assento por inerência — preocupa-me que haja sólido escrutínio. À esquerda do PS, que certamente deterá o poder na cidade, confio na capacidade simultaneamente de crítica e de cooperação do BE e da CDU. Mas, por causa da minha escolha no parágrafo seguinte, votarei na CDU.

Para a Câmara votarei no BE, muito especificamente na Beatriz Gomes Dias. Pelo mérito dela e também, sim e assumidamente, por ser uma mulher negra feminista e antirracista, aspetos que fazem parte da minha ideia de Lisboa. E porque acho importante para as esquerdas e para a cidade que o BE tenha a hipótese de participar na vereação (quanto à inegável qualidade de João Ferreira e da CDU autárquica, esta escolha para a CM é algo compensada pela escolha para a AM).

Quanto à influência da dimensão nacional em escolhas para a capital, elas são óbvias. Assim como o reverso, os sinais que os resultados alfacinhas podem dar para o país. As autárquicas lisboetas permitem-me/nos, em suma, geringonçar.

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